"No final, não são os anos de sua vida que contam, mas a vida nos seus anos", Abraham Lincoln. Recentemente, sofremos uma perda em nossa família. Embora seja algo esperado, definitivamente é algo que tentamos evitar. Por outro lado, a concretização da morte é uma das únicas certezas, se não A ÚNICA, que podemos ter. E acerca de um tema tão comum, há tantos tabus e nuvens cinzentas…
Na vida escolar estudamos nuances de sua existência… Na Biologia, sentenciamos nos primórdios dos conceitos que todo ser vivo nasce, cresce, se reproduz e morre… Já na Filosofia, meditamos que pensamos, logo, existimos… mas nossa existência é delimitada pela sua finitude? Ou será que podemos transcender barreiras e bradar a plenos pulmões que “Elvis não morreu”, assim como tantos outros ícones da História que reverberam até hoje com seus legados? A literatura, por exemplo, eternizou um dos maiores oxímoros quando o brilhante Machado de Assis propôs de forma visceral um autor defunto… ou melhor, um defunto autor! E - "vois là" - nasce (ou morre?) “Memórias Póstumas de Brás Cubas”...
Ainda no aspecto literário, um querido aluno do 9ºA deste ano não perde nunca a oportunidade de me espetar a cada leitura proposta ao longo dos últimos 2 anos que eu tenho “a mania de pedir livros cheios de mortes”... Sempre rimos dessa constatação e eu respondo que estar vivo é um baile furtivo com a Dona Morte. Mas, de certa forma, ele está certo! Em nossa lista mais recente, entram títulos imperdíveis como “A Mágica Mortal” de Raphael Montes, “Procura-se um coração” de Lucia Seixas, “A garota das laranjas” de Jostein Gaarder. Além dos meus três favoritos: a sequência de autoria Rodrigo Lacerda “O fazedor de velhos”, “O fazedor de velhos 5.0”, e um tocante e inesquecível “Prisioneiro B-3087” de Alan Gratz. Eu poderia fazer diversos artigos sobre cada um deles e faltariam páginas para descrever a emoção que cada um passa. Fica o convite para você escolher um deles (ou todos!) e tirar suas próprias conclusões…
E o que isso nos ensina, afinal? A literatura e a arte refletem a temática de modo constante e ao mesmo tempo inovador. Em um dos meus poemas favoritos, Ismália é levada à loucura e apaixona-se por duas luas, uma no céu e outra no mar. Ao longo do poema vemos sua identidade repartir-se entre a alma que alcança a primeira e a carne que descansa na segunda… Forte, impactante e verdadeiro. A importância dessas leituras aparecem quando somos compelidos a escrever sobre nossas experiências.
Recentemente, em abril deste ano, a Fuvest lançou um simulado de redação a fim de preparar os vestibulandos para a mudança que os aguarda na prova deste fim de ano. Em uma das propostas, havia a solicitação da escrita de uma crônica sobre uma experiência comunicativa marcante. Embora abrangente, a temática surpreendeu. Eu, bem como outros professores de redação no Brasil, participamos desse simulado. Duas amigas muito queridas, também docentes de Redação, compartilharam suas crônicas comigo. A primeira, com forte influência jurídica na família, retratou a manipulação da linguagem emotiva capaz de influenciar um júri em um caso de assassinato. Brilhante com um toque imperdível de acidez. Já na segunda crônica: impossível não chorar. Minha amiga trazia em seu fato narrativo a dor de perder a melhor amiga quando esta deu à luz à filha amada. Você pode, neste momento, até torcer o nariz e me questionar que são textos feitos por professoras…
No entanto, meu caro leitor, antes de sermos professoras, somos pessoas. Assim como os estudantes a quem damos as mãos. E quando a Morte nos confronta na vida, na literatura ou na proposta de vestibular, somos iguais. Os oxímoros da alma existem para que possamos dar o verdadeiro significado a cada dia que brilha. Luz. Escuridão. Vida. Morte. Amor. Indiferença. Coragem. Medo. Certeza. Questionamentos…
É a vivência de uma vida cheia de repertórios e oscilações que nos faz sermos quem somos e, desta forma, discorrer em nossos textos tais experiências é como dar voz não apenas aos pensamentos que permeiam uma proposta de redação em uma prova de vestibular ou concurso público. É também dar voz a todas as vidas que existem dentro de nós, sem medo quando a primeira morte chegar. Afinal, enquanto escrevermos e nossas linhas se dissiparem em likes, visualizações e correções, seremos lembrados. Estamos vivos!

Gabriela Dimárzio - professora formada em Letras pela Unicamp, pós-graduada em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica. Especialista em produção e revisão textual, gramática e aplicação de normas. Avaliadora de bancas de redação e língua portuguesa em vestibulares, Enem e concursos públicos.
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