Pegue uma folha de papel e um lápis ou caneta. Coloque o cronômetro no celular. Tudo pronto? Faço um desafio a você, meu caro leitor… Quanto tempo você acredita que demorará para ler este texto? Anote esse tempo hipotético na folha. Desafio aceito? Espero que sim! Solte o cronômetro e recomece a leitura a partir do título! Não vale pular essas linhas iniciais… Calma, ao final, garanto que esse intrigante e simples exercício fará sentido.
Como especialista em linguagem, muitas pessoas me perguntam como melhorar a leitura e tantas outras ainda me questionam se ler é realmente tudo aquilo que se diz por aí. A resposta categórica é que a leitura promove verdadeiras mágicas no cérebro humano e, sim, ler é uma das poucas atividades capazes de expandir nosso universo. Dito isso, como anda a sua leitura?
Em um mundo cada vez mais rápido e com gatilhos para liberação viciante em dopamina, por meio de vídeos curtos principalmente, ler parece antiquado, lento. Nossa linguagem diária, por exemplo, via Whatsapp e outros aplicativos instantâneos, tornou-se híbrida, unindo recursos visuais e fonéticos para uma comunicação mais ágil, mas muitas vezes confusa e incompleta, dando margem a mal entendidos. Quem nunca passou pela insatisfação de ver uma postagem interessante de filme ou produto, cujas informações estavam na descrição, porém - ao abrir os comentários - lá estavam dezenas de postagem perguntando o básico! É falta de interpretação? Falta de atenção? Ou um erro de leitura?
A questão é que ler vai além de decodificar letras. Ler é estabelecer sinapses, criar redes neurais que parecem não fazer sentido algum e de repente, não mais do que de repente como diria o poeta, emergem como um imperioso big-bang e descobrimos que sabemos mais do que imaginávamos. Contudo, para que esse processo aconteça, é necessário que abasteçamos nosso HD interno, ou seja, precisamos alimentar o nosso cérebro com informações. Quanto mais uma pessoa ler, mais conexões será capaz de fazer. Para quem quer se aprofundar nos aspectos biológicos, sugiro conhecer os estudos e palestras da neurologista Anete Guimarães.
Para além da medicina, a leitura traz benefícios sociais e emocionais. O primeiro, pois desenvolve empatia e alteridade. Quando embarcamos em uma aventura, por exemplo, somos levados para esse metaverso e - comumente - identificamo-nos com um personagem ou situação. O ser humano nasceu com as histórias… Contos diversos sobre a origem do planeta transcendem gerações e nações em todo o mundo. Desde o dragão Pan Gu na China, ou os gêmeos e a loba em Roma…
Contar histórias está ligado ao nosso DNA como humanidade, logo, fortalece nossas conexões sociais. Já do ponto de vista emocional, um bom livro é capaz de curar a alma. Coração partido? Não precisa de “sofrência” retumbando nos tímpanos para reforçar a infelicidade. Leia os amores que nos fazem reacreditar em nós mesmos. Problemas no campo profissional? Biografias de grandes inventores, revolucionários, cientistas nos provam inúmeras vezes que o rótulo do fracasso é apenas parte de um processo antes que - aqueles que persistem e aprendem com as pedras do caminho - conquistem seu espaço.
Por fim, retomo a questão: como anda a sua leitura, caro leitor? Quando um pai me pergunta como fazer seu filho ler mais, a minha pergunta se volta a ele: o quanto você, adulto, está lendo? E que experiências partilhadas de leitura há em sua família? Olhe o cronômetro e anote o seu tempo até aqui. E aí? Foi frustrante ou surpreendente? Essa percepção muda a cada leitura que se aprofunda. Ler não é uma perda de tempo. Ler é ter o poder de parar o tempo!
Gabriela Dimarzio - Professora de Língua Portuguesa e Normas Cultas do Espaço Fontes Educacionais.
Comentários: