O ano era 2020. O Enem questionava cerca de 2,7 milhões de vestibulandos em sua proposta de redação como solucionar “o estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira". Em 2022 foi a vez da Unesp. O tema? “Tudo bem não estar bem?: a tristeza em tempos de felicidade compulsória”. Dizem que a arte encena a vida. Bem… neste caso, os vestibulares o fizeram! O mundo estava perplexo com as mudanças causadas pela pandemia de Covid-19 e suas implicações na reestruturação da vida social, logo, tais perguntas eram extremamente pertinentes ao contexto.
No entanto, será que é necessária uma catástrofe mundial para que nos atentemos à saúde mental nossa, dos nossos filhos, dos nossos alunos? O estandarte de “Janeiro Branco” nos relembra que não. Muito além de pandemias, um estudo comparativo ao longo de dez anos, entre 2013 e 2023, realizado pela Rede de Atenção Psicossocial (Raps), vinculada ao SUS, revelou informações preocupantes. A cada 100 mil crianças entre 10 e 14 anos, 125,8 foram diagnosticadas com transtornos de ansiedade. Entre os adolescentes, o número sobe para 157. Outro levantamento, desta vez pela Pesquisa Nacional de Saúde - IBGE - indicou o relevante recrudescimento de 152% na taxa de depressão entre jovens de 18 e 21 anos, durante os anos de 2013 a 2019.
Nesse sentido, a Unesp foi assertiva ao provocar: “está tudo bem não estar bem?”. Estamos inseridos em uma realidade cada vez mais reativa ao erro, exigindo alto desempenho de modo heroico e muitas vezes inatingível. Ninguém é bom em tudo o tempo todo. Embora clichê, esse pensamento precisa ser explicado àqueles que no futuro estarão na nossa posição de educar e girar o globo. Enquanto as redes sociais insistirem em fantasiar uma vida perfeita, sem frustrações ou fracassos, estaremos fadados a construir uma sociedade que caminha, fora das telas, na direção oposta. No digital: um avatar feliz. Longe da web: uma máscara distorcida de alegria. Por trás de ambas: a agonia de não se encaixar num mundo e apenas engolir o choro.
Talvez você se pergunte o que aqueles números têm a ver com a vida escolar dos seus filhos. A questão é que a escola é o ambiente no qual o aluno passa significativa parte do dia e, por múltiplos fatores, é vital que, como educadores, pais e responsáveis, estejamos atentos aos sinais transmitidos por crianças e adolescentes. Irritabilidade e inquietação podem ser interpretadas como comportamentos desafiadores para alguns professores, quando - na verdade - não são. Por outro lado, apatia, não fazer tarefa de casa, chorar para ir à escola são evidências mais simples de perceber que há algo que não está bem.
A questão importante é compreender as emoções e não se deixar levar pelas postagens que confundem nossos sentimentos, alguns temas são muitos extensos e com diagnósticos parecidos e todo cuidado para se autodiagnosticar é pouco. Para não cair nessas armadilhas, duas dicas: não negligencie os sinais dos seus filhos e procure um suporte profissional. São múltiplas as causas que levam a quadros de ansiedade na escola e o diagnóstico não é único. Uma avaliação psicopedagógica e psicoterapêutica séria e atenta é um bom início independentemente do mês. Não adianta bradarmos o “Janeiro branco” e deixar os outros meses passarem em branco…
Se você desconfia de que seu filho precisa de ajuda ou já tem um laudo, procure-nos. O Fontes Educacionais está de portas abertas para ser o suporte que caminha ao seu lado no desafio constante de ensinar. Marque uma visita e surpreenda-se.
Gabriela D. L. Dimárzio - professora formada em letras pela Unicamp, pós-graduada em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica. Especialista em produção e revisão textual, gramática e aplicação de normas. Avaliadora de bancas de redação e língua portuguesa em vestibulares, Enem e concursos públicos.
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