Olá, meu nome é Marília e atualmente trabalho como professora em uma escola bilíngue. Tenho mais de 10 anos de experiência no campo da educação, sendo que, nos últimos 6 anos, venho trabalhando diretamente com a educação infantil. Além disso, sou mãe de 3 filhos, dois dos quais nasceram antes de eu estudar Psicopedagogia e Neurociência.
Por que eu citei isto? Porque eu, assim como você leitor, leitora que tem filhos, sei das dores e das delícias da criação de um filho, e posso dizer que houve um marco no meu papel de mãe e educadora após eu estudar sobre o desenvolvimento infantil. Quem nunca se sentiu perdido em relação à educação dos filhos? Quantas vezes nos pegamos dizendo: "Filhos não vêm com manual" ou "Deveria existir um manual para pais"? Muitas vezes, diante de uma situação difícil, lidamos com ela instintivamente, mas, ao refletirmos mais tarde, percebemos que o nosso "instinto" talvez não tenha sido o mais adequado.
E é por isso que menciono a Psicopedagogia e a Neurociência. Essas áreas do conhecimento não apenas me ajudaram a aprimorar minha prática como professora, mas também a educar a minha filha caçula com mais embasamento e compreensão. Elas têm sido essenciais para entender o desenvolvimento infantil de maneira mais profunda e informada.
Estudar o desenvolvimento infantil — tanto do ponto de vista biológico quanto psicológico — deveria ser um passo fundamental para todos que planejam, ou mesmo não planejam, ter filhos. Quando falamos de comportamentos típicos, como as famosas "birras", por exemplo, muitos pais se sentem desconfortáveis e até envergonhados quando veem suas crianças se jogando no chão ou gritando em público. No entanto, a neurociência explica que essas atitudes são naturais em determinadas fases do desenvolvimento cerebral da criança. Um estudo publicado por pesquisadores como David Eagleman (neurocientista conhecido por suas pesquisas sobre o cérebro, a percepção, o comportamento humano e como a neurociência pode ser aplicada à vida cotidiana) destaca que, na infância, as áreas cerebrais responsáveis pelo autocontrole ainda estão em formação. Então, não é raro que uma criança de 2 anos reaja emocionalmente de maneira intensa, pois ainda não tem a capacidade de regular seus sentimentos.
Outro exemplo que muitos pais vivenciam é quando uma criança apresenta "atraso" na fala. Antigamente, em algumas regiões do Brasil, dizia-se que uma criança "devia tomar água no sino" se demorasse para falar, (na cidade que eu morava era muito comum) mas a neurociência explica que esse atraso pode ser apenas uma variação normal no desenvolvimento linguístico, ou pode estar relacionado a outros fatores que merecem atenção. Muitos comportamentos que, à primeira vista, parecem ser inadequados, na realidade são reflexos do estágio do desenvolvimento cerebral da criança, como o aumento da curiosidade em crianças pequenas, que exploram o ambiente ao seu redor tocando e manipulando objetos.
No entanto, muitas vezes, os pais, por falta de conhecimento sobre o desenvolvimento infantil, podem reagir de forma instintiva, gritando ou punindo a criança que fica sem entender o que está acontecendo. Esse tipo de abordagem não só não resolve o problema, como pode causar um impacto negativo no desenvolvimento emocional da criança. De acordo com estudos em psicologia do desenvolvimento, punições severas podem afetar a autoestima e o comportamento social da criança, levando-a a se tornar mais ansiosa ou insegura.
Recentemente, tive uma experiência pessoal que ilustra bem essa situação. Estava com minhas filhas em uma feira de artesanato e vimos um menino de cerca de 2 anos pegar um carrinho de brinquedo que estava à venda. O carrinho caiu no chão, e a mãe, visivelmente irritada, gritou com ele de maneira agressiva e o arrastou para longe da barraca de brinquedos. Na visão de uma criança pequena, o que aconteceu foi o seguinte: ela viu o carrinho, ficou curiosa, pegou-o e deixou-o cair, mas não entendeu por que a mãe reagiu com tanta raiva. Tudo o que ela sentiu foi confusão e medo, sem entender o motivo por trás da bronca. Foi adequada e eficaz a atitude da mãe? Por certo que não. Então, qual seria a atitude correta nesse caso? Em vez de gritar, a mãe poderia ter se aproximado com calma, explicado que não era para pegar o brinquedo ou ajudá-lo a entender que o carrinho caiu sem intenção. Essa atitude respeitosa e orientadora, que leva em consideração o estágio de desenvolvimento da criança, é mais eficaz do que uma reprimenda agressiva, não só assustando a criança, mas a expondo também.
Educar não é fácil, mas é um processo que exige conhecimento, persistência, boa vontade e consciência. Quando os pais entendem melhor o que esperar de cada fase do desenvolvimento infantil, a educação se torna mais assertiva, tranquila e eficaz. Além disso, ao se familiarizarem com as etapas de desenvolvimento, os pais podem identificar possíveis transtornos ou dificuldades de forma mais precoce, buscando ajuda especializada para garantir a melhor qualidade de vida para seus filhos.
Portanto, todos os pais e futuros pais deveriam se dedicar a estudar o desenvolvimento infantil, especialmente na primeira infância, que é um período crucial para a formação do comportamento, emoções e habilidades cognitivas. Com esse conhecimento, podemos oferecer uma educação mais consciente, ativa e adaptada a cada fase da criança, criando um ambiente de aprendizado mais saudável e respeitoso. A educação deve ser baseada em compreensão, não apenas em intuições ou padrões familiares repetidos ao longo das gerações.
Marília Marin - professora formada em Pedagogia e Ciências Biológicas, pós-graduada em Psicopedagogia e Educação Bilíngue, Multilíngue e Multicultural. Especialista em desenvolvimento infantil pela Utrecht University. Formação complementar pela Universidade de Toronto: The Arts and Science of Relationships: Understanding Human Needs.
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